Não há muitas coisas que me tirem o sono, senão o bem-estar dos meus. Ontem fui para a cama com a estranha sensação de vazio. Por mais que desse voltas e voltas, não conseguia adormecer. Não era um aperto ou um pressentimento, nem nada de esotérico. Era a minha cabeça, perdida em mil pensamentos, que choviam como meteoros diante dos olhos. E a casa em silêncio ainda me perturbava mais, porque prefiro que esta angustia me assalte no calor de uma casa cheia, deixando-me abstrair nas conversas dos outros, levando com os risos, os passos, as vozes, os pensamentos mais obscuros que tenho. Para longe. Por isso, o frio da noite tanto me incomodava. Logo eu, que sempre gostei da noite. Estava ali, como que pregada ao colchão, imóvel, num turbilhão de pensamentos e sensações, que só me levavam a ti. Tenho uma nova vida dentro de mim, sabias? Provavelmente nem queres saber. As saudades são terríveis. Sobretudo, no silêncio da noite.