Não me venham falar de fraquezas. Só fazemos o papel de coitadinhos e desgraçados se realmente o quisermos.
A mania típica dos portugueses, de se queixarem de tudo e todos, de viverem sempre como se tivessem uma corda amarrada ao pescoço, ou a sofrer de lepra. Não se aguenta. Aprendi nos últimos dias a viver de uma maneira diferente, a olhar para as situações e para a minha vida com outros olhos. Regra geral, um dia menos bom era logo motivo para baixar os braços e atirar a toalha ao chão, dizer mal deste mundo e do outro e desanimar.
Tenho convivido com pessoas que me mostram e me ensinam que o meu queixume, muitas vezes, é coisa de menina mimada. E essas pessoas nem se apercebem que me estão a dar uma lição de vida. Uma lição que faz de mim, mais e melhor pessoa, profissional, colega. E isso não tem preço.
Sem serem extraordinárias, são motivadoras. Sem terem super-poderes, são fortes e resistentes. Fazem o que podem, como podem, com o que podem e da maneira que podem, sempre com um sorriso nos lábios, uma palavra amiga e um espirito de entre-ajuda extraordinário.
Trabalho nesta empresa e neste ramo há 10 anos. Nunca me tinha sentido verdadeiramente assim. Nunca tinha feito parte de uma equipa. Agora, sei o que isso é.
Sei que há trabalhos piores que o meu, situações precárias, abusos, explorações. Sei que há trabalhos mais duros, mal pagos, indecentemente protegidos e valorizados. Mas não posso falar dessas realidades, porque não as conheço. Conheço a minha.
Acordar às duas e meia da manhã, para entrar às quatro. Trabalhar de pé, a maior parte do tempo; o desgaste físico, a exposição a agentes agressores, a doenças; o risco que a minha profissão tem; atender pessoas, de preferência com um sorriso nos lábios, mesmo as que nos maltratam e mesmo assim trabalhar com afinco porque estamos a tentar proteger essas vidas; comer quando calha e à hora que der, quando dá; Sair quando pode ser, que quase nunca é mesmo à hora da nossa saída, oito, nove, dez horas depois disto. Chegar a casa e pensar em desistir mil vezes. E mesmo assim, voltar a acordar todas as noites à mesma hora. E levar a profissão a sério.
Não. Não é para todos. Mas também não é para super-homens e mulheres maravilha. Somos todos comuns mortais. E não, não podemos ser coitadinhos nem desgraçados. Não nos podemos sentir assim nem permitir que pensem isso de nós. Há sempre quem faça muito mais e dê muito mais de si, que nos envergonha na nossa patética maneira de ser. Sempre a dramatizar, a lamentar, a chorar sem lágrimas.
Saio daqui diferente. Muito diferente. E só tenho a agradecer.
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