Aquilo que mais me lixa, enquanto mulher, é que me subestimem. Em todos os sentidos. Mas, se na nossa esfera familiar ou social, facilmente conseguimos inverter a situação, no meio profissional a cantiga já é outra.
Faço o mesmo, ou talvez melhor, que muitos dos homens que estão acima de mim. No entanto, enquanto mulher não sou valorizada. E digo enquanto mulher porque, a minha avaliação de desempenho profissional é claramente superior à de homens colegas que são promovidos ou ocupam lugares de chefia. Logo, a descriminação só pode ser sexista.
Senti logo esse dedo inquisidor quando engravidei pela primeira vez. Se soubesse o que sei hoje, outro fado tinha sido cantado. Infelizmente, a ingenuidade e a falta de calo não me deixaram fazer o que seria o correcto. Hoje, arrependo-me.
A verdade é esta: em pleno seculo vinte e um, a mulher ainda é vista como uma submissa, como um apêndice ou como uma profissional de segunda. Vergonhoso, não é?
Analisando bem os números, a frio, é uma autêntica falta de respeito, injustiça e irregularidade que não se promovam as mulheres com a mesma facilidade com que se promovem os homens.
Estaremos perante um caso de machismo? Desculpem-me lá, mas já não acredito nessa. A ideia de que não se pode promover uma mulher porque ela não é capaz o suficiente já não cola. Já não é a essa cartilha que os homens-chefes se agarram. O grande problema tem nome: chama-se medo.
Medo da competência, medo da concorrência, medo da nossa capacidade; medo de serem ultrapassados, medo de serem envergonhados, medo de serem postos de lado. O grande, único e verdadeiro problema é que os homens têm medo das mulheres.
E é esse preconceito, essa pequenez de espirito e pensamento que leva a que tantas mulheres sejam preteridas em favor dos seus colegas masculinos, aquando de novas promoções ou mudanças de funções. Invariavelmente, quando sujeitas a este tipo de descriminações, a tendência é que a produtividade baixe e a motivação vá pelo cano. Não é fácil saber que o nosso trabalho não é reconhecido, mas que os homens-colegas têm mais hipóteses de serem considerados mesmo que sejam autênticas nódoas enquanto profissionais.
Obviamente, esta regra não pode ser aplicada de um modo geral. Nem todas as empresas funcionam assim. Nem todos os homens são piores profissionais que as mulheres, nem todas as mulheres são descriminadas. Mas este panorama é mais frequente do que pontual.
Pontuais são os casos em que todo o processo se desenrola com igualdade de oportunidades. O que, vistas bem as coisas, é ainda mais vergonhoso. Situações destas deveriam ser normais, naturais, nos dias que correm. Mas são assim uma espécie de utopia, que acontecem em empresas-modelo, nas quais todos sonhamos trabalhar. Empresas que zelam pelo bem-estar dos seus funcionários, que valorizam o seu trabalho e dedicação, que exigem mas que recompensam. Pois. Empresas em que acontecem esses casos pontuais, em que a mulher é tanto como o homem.
Há cerca de duas semanas, voltaram a subestimar todo o sexo feminino na minha empresa. Voltaram a preferir um homem, sem que eu consiga ainda perceber quais os critérios. Voltaram a subestimar todo o meu trabalho e o meu empenho enquanto profissional. Não porque eu quisesse o lugar dele, apenas porque não me deram a oportunidade de poder concorrer. O que é diferente. E se isto, só assim à partida, não é descriminação, então não sei o que será.
Voltaram a rotular-me [a mim e a todas as mulheres que trabalham comigo] de profissional de segunda. E não estou a lidar bem com isso. Já vai sendo hora de acabar com estas coisas. Já vai sendo hora de inverter estas tendências. Já não estamos no século passado.
Todas temos os mesmos direitos. E cabe-nos a nós lutar por eles, porque mais ninguém o fará.
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