Pedes pouco para ser feliz. E és feliz de muitas outra maneiras, que eu sei. Mas isto, enfim.. isto está-te no sangue, na pele. Não precisas literalmente dela para viver, mas sem ela vives um pouco pela metade.
Nunca vi ninguém tão livre e descontraído como tu, quando assumes o controlo no guiador e rodas o punho. Cada ronco de motor é uma batida cardíaca. Vê-se nos teus olhos. Sente-se no teu sorriso de menino pequenino a quem se acabou de dar um doce. Como pode uma máquina fazer tanto pela felicidade de um homem? Um homem crescido, de barba rija, a ceder à adrenalina de voar baixinho, a entrar num mundo quase solitário onde o prazer de conduzir se sobrepõe a qualquer outra coisa.
Sim, tu pedes muito pouco para ser feliz. Duas rodas, cilindros em v ou em linha, o som apaixonante do motor, qual banda britânica em memorável sinfonia. A estrada à tua frente, sem destino nem hora marcada, umas boas curvas, o vento a favor e o sol a brilhar. A liberdade e a paixão com que te entregas é uma coisa que não sei explicar por palavras. Só te admiro.
E arrumava agora dois pares de roupa, as escovas de dentes e as carteiras. Ia contigo onde quer que fosse. Só tu e eu, a estrada à nossa frente, sem destino, sem pressas. Só tu e eu e a nossa vontade de sermos estupidamente felizes. Só a tua alegria. Só o meu consolo de te ver feliz. E tu, que pedes tão pouco para o ser..
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