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Vim para aqui com 17 anos. Lembro-me perfeitamente daquele dia. Era um sábado, fazia calor. Fiz a mala, arrumei cd's, livros e meia-dúzia de fotografias na mochila. Despedi-me dos meus, de alguns amigos e vim a chorar pelo caminho. Tinha um nó na garganta. Vinha para 60km longe de casa, mas parecia que ia para a China. Durante semanas senti sempre o mesmo. Quando aqui cheguei, estranhei tudo. O espaço, os cheiros, os barulhos, a rua. O frio parecia mais frio, o calor mais estranho, os dias pareciam ter um compasso diferente, a comida não sabia ao mesmo. Depois, os dias foram passando; as semanas, os meses, os amigos que vamos fazendo, os lugares que vamos conhecendo, até o falar que vamos apanhando. Tudo começou a fazer mais parte de mim. Até que me entranhei neste espaço.
Este fim de semana, fui visitar a minha mãe. Fui à terra onde vivi durante 17 anos e já nada daquilo me pertence. Estranho as ruas, as pessoas, o cheiro. Fiquei alguns minutos a contemplar uma das casas onde cresci. Do lado de fora, parece tudo igual, mas por dentro deve estar tudo diferente. Senti-lhe o cheiro, o tempo, lembrei-me do toque nas paredes e no chão de pedra. Revivi um passado que me é querido, tive saudades. Mas, ao mesmo tempo, senti-me tão distante daquele espaço, como se muitas vidas já se tivessem passado entre nós. Já não reconheço os lugares, já não me identifico nos espaços. Está tudo tão mudado, tão diferente. No fundo, sinto uma certa nostalgia. E embora saiba que é do progresso que se vai construindo o futuro, aquela terra seria o lugar onde pararia o relógio, para voltar ao meu passado sempre que quisesse.
Recordo aquele sábado de Outubro, fazia calor e pouco mais que memórias trouxe comigo. Hoje, tenho as que lá deixei e as de toda uma vida que vivi aqui. Aqui. O lugar que já é meu.

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Well..

.. ao que parece, está tudo benzinho com o pequeno. A mãe tem uma infecção urinária assintomática e já está a antibiótico e o pequeno parece estar feliz da vida. O líquido que verti pode bem ter sido xixi, porque com as infecções é normal acontecer.. digamos que com a gravidez também, porque o peso pressiona a bexiga. Mas, de qualquer das formas, ela mandou vigiar o assunto. Por isso, aqui estamos. Um dia de cada vez.. e espero que esta gravidez chegue ao fim sem nenhum problema de maior.. e que logo, logo o Manuel esteja nos meus braços saudável e perfeito.

ando cansada..

Uma pessoa cultiva amizades, faz por elas, muitas vezes, mais do que pela própria família; alteramos planos, mudamos vidas, fazemos das tripas coração para estar presente. Não fiz o que fiz por desejar algo em troca, porque quando achamos que há amizade, não precisamos esperar nada em troca.. ultimamente, vou espreitar o facebook e as minhas queridas amigas, na minha ausência (será?), parece que me substituíram muito rápido. Não fui eu que desapareci. Nos meus piores momentos, elas é que não estiveram lá. E hoje, que passo os dias sozinha, sempre à espera que o marido e a filha cheguem a casa para ter com quem conversar, ninguém (mas mesmo ninguém, impressionante!) me chega à porta.. Ando cansada, mesmo cansada de esperar e de acreditar que as pessoas tem as vidas ocupadas. Porra, existem dias de folga, existem telefones, eu não me mudei para a China..

isto faz o meu estilo #5