Avançar para o conteúdo principal
Há uns dias li este post (irritante de tão bem escrito e certeiro) e fiquei a matutar no assunto. Sim, era tudo verdade: especialmente, o "gosto especial em desempenhar o papel de vítima". E reflecti. Bastante até.
Até aqui eu desempenhei este papel na perfeição, não deixando que nada me tirasse esse estatuto que, com tão grande orgulho e pena, eu gozava. Sem muitas vezes querer falar do assunto que me tornava uma pobrezinha, eu gostava de sentir aquela compaixão tão típica de quem me rodeia. Coitada, sofreu tanto, passou as passas do Algarve.. sim, definitivamente, eu gostava de sentir que os outros me sabiam sofredora. E, no momento em que me apercebi do quão ridicula eu estava a ser, senti vergonha. Mas como é que eu pude fazer uma coisa destas comigo? Como é que permiti que este aposto estivesse tanto tempo relacionado ao meu nome? De alguma coisa me valeu ter sido a Rita, a coitadinha? Vergonha, muita vergonha.
Decidi pôr em prática todo o conteúdo do post. Primeiro, perdoei-me por me ter permitido vergar à compaixão alheia, neste meu papel principal de grande vitima. Depois, perdoei-me por tudo o que me fez sofrer um dia. Depois, perdoei quem me fez sofrer o que sofri. E só tenho uma coisa a dizer: quem me dera ter feito isto há mais tempo! Poupava anos de angustia, ansiedade, tristeza, cabelos brancos e rugas. 
«Contudo perdoar não implica esquecer a dor que os outros nos provocaram»  e isso nunca esquecerei, com toda a certeza. E embora, quando ainda recordo porque fui tão infeliz, sinta um misto de incompreensão e abandono, não posso deixar de sentir, ao mesmo tempo, uma leveza e paz de espirito porque encerrei um capitulo negro na minha vida.
Hoje, a pessoa que me fez sofrer ainda me é indiferente, ainda não consigo sequer chegar perto ou tê-la na consideração que poderá merecer por ser quem é. Não posso prever o futuro e não sei como será a nossa relação daqui a uns anos. Contudo, o que realmente sei é que, apesar de não esquecer o que se passou, consigo aceitar como tendo sido uma coisa que não pude evitar que me fizesse sofrer. Aconteceu para me tornar uma pessoa mais forte, mais consciente, talvez um pouco mais amarga com a vida, mas mais alerta, com os pés na terra. Aconteceu para me fazer crescer, porque o sofrimento também tem essa capacidade. E sobretudo, sei agora, que aconteceu para que 7 anos depois eu conseguisse perdoar e perdoar-me a mim própria também.
Tantos anos a fazer o papel de vitima, quando afinal, fui Rita, a grande!

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Achei que o corte de cabelo da Letizia merecia o meu regresso..

  Se isto não é um exemplo de modernidade, não sei o que lhe chamar. A rapariga não é só a rainha de Espanha, é uma mulher moderna. E como mulher moderna que se preze, cuida da sua imagem. E só por esse gesto de corte com o tradicional e o correcto, só posso aplaudir a atitude. Já não posso dizer o mesmo da magreza. Num momento em que se apela ao fim da magreza extrema como sinónimo de beleza, num momento em que se defende um corpo saudável, ela aparece com as costas a descoberto.. e não consigo pensar em nada de positivo nesta imagem.

Eu podia ignorar, mas é mais forte que eu.

Ele era um colega, que hierarquicamente estava abaixo de mim. Entrou uns anos depois de mim para esta empresa. Foi galgando lugares enquanto um macaco come uma banana. Não me perguntem como, nem porquê. Eu desconfio, mas ia ter de dizer muito palavrão para me justificar, portanto permanecerei uma senhora de bico calado. De lugar em lugar, de tarefa em tarefa. Pouco me importa se tem a língua negra de tanta bota engraxada, se tem dificuldade em sentar-se ou se comeu o pão que o diabo amassou. Desde que ele não me prejudique, ele lá e eu aqui, e amiguinhos como dantes.   Mas quando a verborreia atinge patamares de superioridade, não há como passar despercebido. Uma pessoa pode ignorar, mas e conseguir? É como tentar ignorar um mosquito a meio da noite, no quarto. Tu bem tentas, mas é mais forte que tu.   A criatura vai fazer uma apresentação numa reunião. Já de si, a situação tinha aqui material de sobra para que o Ricardo Araújo Pereira fizesse um brilharete. O ser está incha

Rogo-te uma praga, que nunca mais te endireitas..

.. porque sou uma moça da Vila e não levo nada pra casa comigo. Por isso, antes de se meterem aqui com a je , pensem duas vezes! :) Que podem saltar-me boca fora maravilhas como estas: « - Só queria que a tua língua crescesse tanto que chegasse aonde chegam os lampaços do farol da barra.» « - Permita Deus que tenhas uma febre tão grande, tão grande, que até te derreta a fivela do cinto. » « - Permita Deus que fiques tão magro, tão magro que possas passar pelo fundo de uma agulha de braços abertos.» « - Não sabia dar-lhe uma dor tão grande que nunca mais parasse, que quanto mais corresse mais lhe doesse e se parasse rebentasse. » « - Não sabia nascer-lhe um par de cornos tão grandes, tão grandes, que dois cucos a cantarem, cada um em sua ponta, não se ouvissem um ao outro. » « - Não lhe desejo mal nenhum. Só queria que vivesse mais 100 anos e engordasse um quilo por dia. » «- Não sabia dar-te uma dor de barriga tão grande que só cagasses pedra britada.» « - Permita Deus que toda a comi