- Mamã.. Eles não me deixam jogar à bola com eles! O Salvador até me disse 'pira-te daqui!' e eu chorei, mamã. Eu queria mesmo jogar com eles, correr e marcar golos e eles não me deixam! Estou farta de ser sempre o árbitro ou o apanha-bolas. Isso é uma seca!
Primeiro controlei o riso. Imaginei-a a fazer de árbitro ou de apanha-bolas e delirei com a imagem. A minha pinta calçuda deve ser tão mázinha no futebol que os outros, os rapazes, não a deixam jogar. Eu percebo o lado deles. Ter ali uma menina (ainda que destemida, que eu sei que ela é) a atrapalhar não é nada fixe. Mas eu não lhe podia dizer isto, que concordava com eles, que ela não tem o mínimo jeito para o futebol. Não podia porque ela ia ficar muito zangada comigo. Então, com muita calma, lá lhe expliquei que era muito importante ser o árbitro. O árbitro é o dono do jogo, anda ali a ver se todos jogam como deve ser. E tem poderes: se um menino se porta mal a jogar à bola, o árbitro apita, mostra o cartão vermelho e expulsa-o do jogo. Logo, ser o árbitro é muito fixe.
- Boa mamã! Obrigada! Amanhã vou querer ser o árbitro, vou expulsar o Salvador do jogo e depois fico no lugar dele para marcar golos.
E pronto. Não tenho que ter receios. A minha filha é uma estratega de primeira. Prevejo um futuro brilhante!
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