Faz hoje três anos. A minha amiga Maria estava embriagada, num estado letárgico, abraçada a um pequeno urso de peluche e na mão uma fotografia. Os olhos fitos num vazio enorme e a voz, que quando teimava em sair, só exprimia gritos de dor. Um choro cansado. Cansada de tanto chorar e questionar o porque. Porque com ela, porque com eles, porque a sua menina? Porque seria a vida tão injusta, tão madrasta, tão cruel?
A minha amiga Maria, amparada pelos braços daqueles que ainda a amam tanto e que mais a admiram, sem forças, mostrava a todos aquela fotografia. A fotografia de uma menina, a brincar nas ondas do mar, dócil, serena, de sorriso aberto e feliz. A sua menina.
Todos chorámos com ela, partilhámos a sua dor, sem termos a noção do quão forte e dolorosa era. Sem nunca termos chorado aquelas lágrimas. As lágrimas de uma mãe que perde a sua filha, para um sono profundo e eterno.
Faz hoje três anos. Cheguei a casa e parecia que tinha sido atropelada por um camião. Doía-me todo o corpo, a alma, custava-me a respirar. Era um sufoco, uma ansiedade, uma raiva contraída nos músculos. Só me apetecia abraçar a minha menina, exactamente da mesma idade da menina da minha amiga Maria. E fiquei ali, naquele abraço, durante longos minutos. E prometi-me a mim mesma que, todos os dias a abraçaria da mesma forma. E chorei. Chorei. Porque o céu tinha ganho um anjo lindo, mas na terra ficava uma mãe com uma dor tão grande, que nem o tempo consegue apagar.
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