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A dor que o tempo não apaga.

Faz hoje três anos. A minha amiga Maria estava embriagada, num estado letárgico, abraçada a um pequeno urso de peluche e na mão uma fotografia. Os olhos fitos num vazio enorme e a voz, que quando teimava em sair, só exprimia gritos de dor. Um choro cansado. Cansada de tanto chorar e questionar o porque. Porque com ela, porque com eles, porque a sua menina? Porque seria a vida tão injusta, tão madrasta, tão cruel? 
A minha amiga Maria, amparada pelos braços daqueles que ainda a amam tanto e que mais a admiram, sem forças, mostrava a todos aquela fotografia. A fotografia de uma menina, a brincar nas ondas do mar, dócil, serena, de sorriso aberto e feliz. A sua menina. 
Todos chorámos com ela, partilhámos a sua dor, sem termos a noção do quão forte e dolorosa era. Sem nunca termos chorado aquelas lágrimas. As lágrimas de uma mãe que perde a sua filha, para um sono profundo e eterno.

Faz hoje três anos. Cheguei a casa e parecia que tinha sido atropelada por um camião. Doía-me todo o corpo, a alma, custava-me a respirar. Era um sufoco, uma ansiedade, uma raiva contraída nos músculos. Só me apetecia abraçar a minha menina, exactamente da mesma idade da menina da minha amiga Maria. E fiquei ali, naquele abraço, durante longos minutos. E prometi-me a mim mesma que, todos os dias a abraçaria da mesma forma. E chorei. Chorei. Porque o céu tinha ganho um anjo lindo, mas na terra ficava uma mãe com uma dor tão grande, que nem o tempo consegue apagar.

Comentários

Gaja Maria disse…
Felizmente nunca vivi essa dor mas acredito que seja das piores do mundo. Um abraço à tua amiga Maria...

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... mesmo que depois de um interregno de quase 3 anos. Podia contar a história daquela que foi ali comprar tabaco e nunca mais apareceu. Poupo-vos o melodrama. No meu caso, é mais a história daquela a quem a vida se voltou de pernas para o ar, que sem saber como nem porquê, vim parar ao médio oriente e já por aqui ando há quase dois anos.  Nos entretantos, traí o blogger com o Wordpress. Relações modernas. Nada de mais. É que lá estava mais à vontade para falar da vida de emigrante. Mas, não há amor como o primeiro [dizem], bateu uma saudade imensa. Vim aqui de soslaio, só naquela de ver se ainda sentia a química. Nem de propósito ser o primeiro dia do ano e, tal e qual uma ressacada, não resisti em reacender a chama. Se é para toda a vida, até que a morte nos separe? Não sei. Talvez. Quem sabe. Até agora estamos a ganhar ao José Carlos Pereira e à Liliana Aguiar no junta-separa. 

isto faz o meu estilo #4