Já há muito me tinha esquecido de como é viver assim. Com as horas e os minutos contados, à volta das grandes exigências de um ser tão pequeno, que não se inibe de serem 3 da manhã e acordar o prédio inteiro com o poder dos seus pulmões. E digo pulmões para não dizer o sistema respiratório todo. Se não forem as malditas cólicas, que já lhes tenho um ódio de morte, será por fome ou por uma troca de fraldas, enquanto a leiteira com pernas aka mãe, entre os olhos mal abertos e os bocejos e um cambaleante passo, lá vai acalmando o choro e descobre a causa.
Já me tinha esquecido de como é viver em prol de um pequeno e exigente ser, deixando para segundo plano um banho mais demorado, ou lavar o cabelo como deve de ser, fazer a depilação ou vestir qualquer coisa de jeito que não sejam camisas velhas e largas.
Já me tinha esquecido do que é andar o dia inteiro a snifar-me, de onde virá este cheiro a bolsado?e este cheiro a leite entranhado em mim?será que me sujei com alguma fralda?
Já me tinha esquecido do quão árduo é o propósito de tentar elaborar uma refeição decente, sem pressas de ir calar um bebé chorão e fazer pouco mais que salsichas com ovos em tempo record.
Já me tinha esquecido do que são as olheiras fundas, resultado de noites dormidas de três em três horas, quando a coisa corre bem. Que entre acordar, dar de mamar, arrotar, mudar a fralda e adormecer, um pequeno ser de meia duzia de dias, consegue arrumar uma gaja com trinta anos.
Não planeio saídas que durem mais de duas horas, porque não se sabe como vai correr a coisa; nem tão pouco para muito longe, porque a coisa pode correr mal.
Têm sido assim os meus dias, que aos poucos (e gráçáDeus!) estão a melhorar. Não tarda, este pequeno homenzinho cresce. E os meus dias serão distribuídos entre trambulhões e bolas e arranhões e mais cocó e xixi para limpar.
Parece que nunca estamos satisfeitas com aquilo que a vida nos dá.. e eu não me queixo, porque este pequeno ser foi mais desejado que o D. Sebastião. Contudo, há dias em que a exaustão me levam tão longe como desejar que ele tivesse nascido já com cinco anos, de vacinas tomadas, dentes na boca e a falar bom português.
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