Tu que estás a lêr isto: quando te aborreceres porque ainda não foi desta que compráste aquelas botas da Globe ou porque ainda não conseguiste ir torrar um subsidio de natal na h&m; quando te entrar uma neura porque em vez de conseguires correr 5 km, fizéste gazeta aos ténis e ficáste a dormir na cama; quando todas as tuas preocupações forem em volta da cor das unhas, do corte de cabelo ou da depilação definitiva; quando não olhares mais além do que o teu umbigo; quando a real maçada for o relatório que nunca mais está acabado; quando não houver mais dúvida nenhuma a não ser qual o destino rural-e-ultra-mega-in para passar o fim de semana; quando nada mais no mundo interessar do que o ultimo gadget que está a ser lançado no mercado; quando a tua felicidade se basear em aparecer em eventos-festas-de-rissol-e-croquete; quando o teu maior sonho for a decoração da casa nova que possivelmente nem chegarás a ter; quando achares que os teus filhos são perfeitos e o teu marido é perfeito e a tua mulher é a dama do lar perfeita e a louca na cama perfeita; quando os teus objectivos forem traçados em prol da tua e exclusivamente tua felicidade e concretização; quando achares que a maior desgraça é ganhar cinco quilos; quando sentires que só serás feliz quando estiveres confortavelmente instalada na tua vidinha.. pensa na Maria.
A Maria é a minha amiga. A Maria gosta de se vestir bem, de andar confortavelmente calçada, de cuidar do seu corpo e da sua imagem, de poder ir passar os fins-de-semana com a familia ao Alentejo e de comer em bons restaurantes. A Maria é jovem e é bonita. A Maria tinha tudo para ser a pessoa mais feliz do mundo, com o seu corpo elegante, com o seu marido perfeito, com a sua casa de sonho. Mas a Maria, enche-se de força todos os dias quando se levanta de manha e enfrenta cada dia como se fosse o último. A Maria é a pessoa mais forte que eu conheço. A Maria perdeu a sua pequena filha há pouco mais de um ano. Por isso, a Maria teria todos os motivos para estar bastante zangada com a vida, contudo, tenta colocar um sorriso em cada palavra que diz e tenta viver os seus dias devagar. Porque a dor de se perder um filho não se consegue explicar.
Por isso, tu que estás a ler isto: quando achares que uma acção ou uma palavra são o suficiente para te estragar o dia, pensa na Maria. E imagina como serão os dias dela, sentindo saudades da filha.
E isto também se aplica a ti, que estás a escrever isto.
Comentários
Uma força de vida, e com esperança e claro viver cada dia de cada vez.
Bjstos
No fundo é tudo uma questão de perspectivas e comparações, mas não acho que a vida seja algo que possa ser comparável...
agora lembro-me também da tua amiga Maria. Tenho uma amiga. A Madalena (chamemos-lhe assim). Desde 1999 que a Madalena sabe o que é acordar sem a sua pequena filha, arrancada à vida em menos de 48h, de forma inexplicável. Ficou a dor, o amor pela filha mais velha. Veio o amor pela terceira filha, entretanto nascida.
Uma dor destas não se apaga, não se medica senão com amor e profunda amizade...
Hoje, a minha amiga Madalena vive uma nova reviravolta na sua vida, nascida nesse mesmo momento. Mesmo passados estes anos, o casamento não sobreviveu. E ela está a apanhar os cacos da sua vida e a reconstruir-se como pessoa, mulher e mãe.
Penso muito na minha amiga Madalena, dedico-lhe tempo e pensamento... estou presa até no blog por palavras que não escrevo e medos que não confesso.
As Marias e Madalenas desta vida estão cá para nos ajudarem a sermos mais felizes com o que temos. conquistamos. conseguimos. mesmo os quilos a mais. mesmos os medos e inseguranças. também os beijos e as carícias. o cheiro a bolo quente a sair do forno. o amor.
Beijo enorme Rita e desculpa o testamento