Até Setembro trabalhei em dois lugares distintos. Em duas áreas completamente distintas. A fonte principal do rendimento, já sabem, no aeroporto. A outra, uma espécie de part-time que me levava todos os segundos dos dias, era um acréscimo ao tilintar na conta bancária. Por outro lado, era como uma espécie de alter ego, que me elevava as capacidades criativas, de decisão, de raciocínio, por vezes tão ausentes da minha principal função. E é dessa vertente atarefada e multi-facetada que sinto mais falta.
Contudo (e nestas coisas, não vale a pena negar, há sempre um senão), era um trabalho de bajuladoras. Quase todas mulheres, principalmente na coordenação e supervisão, quem se safava era quem melhor lambia as botas. E nada de ser tímida com a ponta da língua. Eram linguados mesmo. Literalmente abocanhar as botas da coordenadora com a boca toda. E eu nunca fui grande coisa nesta matéria. Daí, talvez seja pouco provável que me convidem para cházinhos e jantares. Embora, enquanto profissional (e nisto dou sempre o meu melhor), espero que me chamem para outro projecto.
Caí de para quedas num instituto (público, sim) mais que calejado com as manhas e tramóias de quem é já cão velho nestas caçadas. Adivinhem quem foi a pobre e indefesa lebre? Acertaram. Embora soubesse de antemão que era um contrato a termo, que não ia ser para sempre, sempre senti que havia ali a boa oportunidade para mudar de vida e fazer algo mais parecido comigo. Em poucos dias, senti-me como peixe na agua. Absorvi cada conceito, cada procedimento, cada metodologia. E no fim do trabalho, senti-me orgulhosa de mim própria. Tinha feito um óptimo trabalho para uma principiante. Agora, depois destes meses de silêncio, apercebo-me que não deixei baba suficiente naquele escritório, especialmente por debaixo da secretária da minha chefe. E quando vejo nessas plataformas sociais a quantidade de sorrisos amarelos e mensagens lamechas que as minhas ex-colegas lhe enviam, ainda tenho mais certeza disso.
Oh vida cruel!
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