Depois de comentar este post , segui-se uma resposta que, no mínimo, me fez suspirar de desespero e resolver falar de trabalho (explicitamente) aqui no blog.
Ora, aqui está ela:
Então, vamos lá! Para quem não sabe, eu trabalho no aeroporto de Faro, já vai para 7 anos e picos. Diariamente tenho contacto com centenas e centenas de pessoas. A sua grande maioria, de nacionalidade inglesa, alemã e holandesa. Diariamente temos situações tão insólitas com os passageiros, que apesar de nos apetecer partir-lhes as rótulas e pisar-lhes a cabeça, temos de nos conter e manter o profissionalismo, porque o passageiro é o nosso cliente. E cliente que se quer que volte, tem de ser 'bem tratado'. Obviamente, um aeroporto não é o da Joana e não podem andar a fazer o que lhes apetece, nem achar que podem trazer tudo o que lhes dá na mona para bordo. É para isso que existem senhores e senhoras que se levantam às 2 e às 3 da manhã para ir trabalhar, no sentido que estes senhores e senhoras (vulgo passageiros) tenham uma viagem segura. Se concordam ou não com as regras a aplicar, com os procedimentos, isso são outros quinhentos. O que é certinho como o destino é que estas medidas de segurança têm de ser aplicadas. E ponto.
Agora, voltamos ao que me trouxe hoje aqui: esta senhora (que assina Mónica), diz que em Faro implicam com tudo e antipatia não falta.. Pois: em primeiro lugar, a mim pagam-me para ser profissional e educada, não para ser a miss simpatia. O que é bem diferente. Entre educação e simpatia pode haver uma linha ténue, mas é bom que não se confundam.
Parece-me a mim que estamos aqui perante um caso típico e chama-se Ryanair. Desde que se lembraram de inventar este maravilhoso voo, que a nossa vida não foi mais a mesma. Em primeiro lugar, temos de lembrar os passageiros com destino ao Ryanair do Porto, que estamos num aeroporto, não num terminal da Renex. Quando se viaja de avião, é aconselhável estar no aeroporto, pelo menos 2 horas antes da hora de partida. E não é para ficarmos contentes por termos casa cheia! É para prever situações inesperadas. Desde que a grande maioria dos passageiros do Ryanair do Porto, descobriram o check-in online, acham que podem aparecer no controlo 15 minutos antes do avião partir. Ora, 15 minutos antes do voo partir, já o avião tem a porta encerrada e já ligou reactores, para aquecer.. Convém também lembrar que, se no Porto, a companhia de segurança não cumpre com as normas impostas pela União Europeia, a culpa não é nossa. É deles. E se eles não a cumprem, quando as mesmas estão escarrapachadas em cada check-in, são anunciadas no som de hora-a-hora e estão sob consulta em tudo o que é sítio, então é melhor encerrarem o aeroporto do Porto, porque é perigosissímo para a aviação civil. «Ahhh.. você trás aí acido sulfúrico numa garrafinha pequenina, dentro da mala.. ahhh.. mas como eu sou tão simpática, vou deixá-la passar.. veja lá se não molha ninguém com isso dentro do avião!» Ao invés de os achar uns amores, eu fazia queixa deles! Mas, isso sou eu, claro..
Quero deixar uma coisa bem clara: a grande maioria de passageiros problemáticos, são os estrangeiros, não os portugueses. Isso, porque temos, para o continente uma média de 4 a 5 voos por dia, ao invés dos outros todos que são internacionais. Portanto, assim se explica. Contudo, o grande problema dos portugueses é o chico-espertismo que muitos possuem, a má formação e má educação que possuem e a mania que têm em pensar que são seres superiores de outra galáxia e que o senhor segurita (custa muito dizer apenas segurança!) só foi trabalhar naquele dia para implicar de propósito com eles. Custa-me dizer isto, mas, pelo mesmo preço do bilhete na Ryanair, também se compra o bilhete do autocarro. Demora mais tempo, mas ao menos podem levar a soda caustica sem ninguém para chatear.
Desde o low-cost, andar de avião banalizou-se. E as pessoas não têm consciência do trabalho que envolve concretizar um avião seguro (em terra e no ar). A isso, chamo eu burrice.
Todos os dias, somos insultados, injuriados, atiram-nos com os objectos pessoais, já me encharcaram com uma garrafa despejada literalmente em cima, somos agredidos verbalmente constantemente, entre muitissimas coisas que davam outra história. Mas, o que é certo é que por aí leio que tiramos cremes e àguas, mas não leio que 'salvamos vidas', quando um maluco tenta passar com gasolina dentro da inofensiva garrafa de plástico, que apreendemos armas e objectos proibidos, que aparentemente pertencem a pessoas aparentemente inofensivas.
Na melhor segurança do mundo, passaram 19 pessoas, em aeroportos diferentes e conseguiram sequestrar 4 aviões comerciais. Pouco tempo depois, deu-se um dos piores ataques à aviação civil, no maior atentado feito nos EUA. Estavamos a 11 de Setembro de 2001 e morreram 2993 pessoas. Os terroristas utilizaram sprays químicos contra a tripulação, como gás lacrimogêneo ou spray de pimenta, bem como ferramentas manuais multi-funções e simples x-actos. Nenhum vestígio de explosivos foi detectado nos locais dos atentados.
Falamos de vidas. Trabalhamos com vidas. Continuam a preferir que sejamos uns amores de incompetentes? Eu prefiro ir para casa, com a consciência de que cada voo chegou ao seu destino, são e salvo.
Comentários
Eu nunca viajei de avião, por isso, nunca tive a noção destas coisas. Mas acho que, realmente, mais vale passar por antipático e ser competente.
Gostei muito de ler isto, porque como diz, de facto, isto é salvar vidas. Portanto, muitos parabéns pelo seu trabalho.
Respeito maximo pelo teu trabalho :)