Eu adoro ser mulher, a sério. Adoro tudo. A nossa condição, a nossa sensibilidade, o dom que a natureza nos deu de sermos capaz de gerar vida. O facto de a nossa roupa ser muitíssimo mais gira e mais variada. O poder de concentração que temos ao ler a Cosmo ou a LuxWoman. A ginástica que fazemos para tratar da casa, do nosso clã, do nosso sucesso profissional e de nós. A emoção que carregamos ao ver um filme baseado numa qualquer obra de Nicholas Sparks e a falta de vergonha de chorar baba-e-ranho no cinema. Adoro que a industria da cosmética evolua freneticamente por nossa causa. Amo de paixão ter nascido mulher e tenho muito orgulho nisso.
Mas, e há sempre um 'mas' e não me digam que não!, lá no fundo, no fundo, invejo essa descontracção masculina em relação a quase todas as máximas da vida. Ora, não há jantar feito? Não faz mal, umas sandes e uma cola resolvem qualquer problema. É que os homens são assim: descomplicados, mais simples, mais curto-e-grosso, mais deixa-arder-que-o-pai-é-bombeiro. E é essa qualidade masculina que eu mais invejo. Não perdem tempo com as dúvidas do guarda-fatos, não se questionam se aquele anti-olheiras valerá mesmo os 40 euros, não passam o dia no trabalho a pensar no jantar de logo à noite. Não se apressam nos seus lazeres para ir pôr a roupa dos míudos em dia, não coram até à combustão se recebem visitas-surpresa em casa e a mesma mais parece a faixa de Gaza. Não vão a correr vestir umas calças, se a campainha toca e a depilação nas pernas não está feita. Qualquer canto da sala é um bom aterro de sapatos e se a roupa suja ficar no chão da casa-de-banho, certamente levitará até à máquina de lavar. É isto. É isto que eu invejo. Esta despreocupação, este desmazelo, esta atitude sem stress perante a vida, que os leva a andar mais descontraídos, mais soltos, com a cabeça mais leve.
E se confrontados com isto, com o simples facto de a mulher levar uma vida profissional tão desgastante como o homem e depois ainda ter estas 'preocupações extra', levamos logo com a típica resposta do «ah é?!? tás a dizer que eu não faço nada, pois não? que eu não te ajudo..» e amuam.
Verdade seja dita, muitos ajudam, muitos partilham tarefas, muitos fazem mais e melhor que certas mulheres. E outros, simplesmente não.
Continuo a adorar ser mulher. Continuo a achar o máximo preocupar-me com a combinação da roupa e com saber se tenho de fazer sopa.
Ainda assim, quando não me apetecer fazer nada ou andar mais despreocupada com os assuntos femininos, sempre posso dizer que estou com o período.
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