Começa por ser estranha, depois entranha-se de tal forma que quando menos esperamos já tomou conta de nós. Não é tão fácil como parece deixá-la partir, mesmo com a consciência plena de que é o melhor para nós. Há dias em que nos domina por completo. Há outros que nem damos pela sua existência. Os maravilhosos amigos que nos deixam moles, felizes, apáticos, sonâmbulos, sem sentido ou reacção não são a solução eterna. Embora ajudem.. Quando tudo dentro de mim grita que se quer ver livre deste estado de letargia, parece que há uma pequena parte do meu cérebro que não responde, que não se manifesta, que não faz nada para que isso mude. E do riso, da alegria, da espontaneidade, da vontade de viver livre e feliz, vem a apatia, o choro, o pensamento constante que me tira a vontade de fazer o que quer que seja. Ninguém nos ensina como viver com isto, mas também ninguém nos ensina como deixar de o fazer. Embora ajudem.. Parte de nós arranjar forças, sabe-se lá onde, para lhe fazer frente. Parte de nós arranjar soluções, distracções, novos pensamentos. Parte de nós a nossa própria cura. Embora não seja fácil, embora demore, embora nos esgote e nos transporte para um estado de fragilidade, embora quase nos enlouqueça..
Não me sinto completamente livre dela. E sei que não estou. Quando o mundo pára à minha volta, especialmente quando estou sozinha, ela vem sentar-se a meu lado, tenta meter conversa, insiste e insiste e insiste, tenta jogar-me a baixo para mais facilmente entrar, penetra nos meus pensamentos como se fosse éter que me atordoa.. não sei quanto tempo tenta levar-me de novo com ela.. talvez sejam 10 minutos, talvez meia-hora, talvez mais.. sei apenas e tão só que aprendi que se a ignorar ela acaba por desistir. Embora venha, todos os dias, sempre que pode, tentar-me. Então fico, quieta, pensando em todas as coisas boas que tenho, enquanto ela vai investindo no seu propósito. E quieta, sem sequer a fitar, vou ignorando a tentação de embarcar de novo num caminho obscuro. Até que ela desiste e vai embora.. mas deixa sempre o recado, de que promete voltar.
[venha.. estarei pronta.]
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